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Avaliação somativa e formativa numa perspectiva metacognitiva

Atualizado: 6 de mai. de 2019

Nélio Bizzo e Marcelo Jordão

publicada na Revista Em Formação – Volume 2, 2007



Nélio Bizzo é doutor em Didática pela Universidade de Liverpool, livre-docente em Metodologia do Ensino da Ciência e professor Titular do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educação da USP.

Marcelo Jordão é mestre em Ensino de Ciências pela USP, professor de Química do Ensino Médio e coordenador de implementação de programas especiais de ensino de ciências nas escolas.

Muitas vezes confundimos avaliação com o ato de atribuir notas ou decidir pela aprovação ou reprovação dos alunos. De fato, ao atribuir notas realizamos uma forma de avaliação. A avaliação, no entanto, é bem mais do que uma medida. É o que podemos chamar de um “contrato de confiança” entre a sociedade, as escolas e os estudantes. A sociedade espera que o aluno que, com sucesso, concluiu seus estudos tenha sido avaliado pela escola. A avaliação é imprescindível também para o próprio aluno, com profundas repercussões no seu futuro, na sua autoestima. E pesquisas recentes têm mostrado a importância dos próprios alunos participarem dessa avaliação, monitorando seu desempenho.

Uma forma já consagrada de classificar os instrumentos de avaliação apresenta diferentes possibilidades. A avaliação diagnóstica fornece dados que permitem planejar atividades e servem como referência importante para determinar os progressos alcançados ao final de certo período. Na avaliação diagnóstica, o professor apresenta aos alunos, no início da atividade, o que espera que eles aprendam. Isso pode ser feito com enunciados simples, evitando-se terminologia técnica. Sugerimos em um de nossos materiais didáticos as seguintes questões:


Nesta lição, você aprenderá:

1. Como se forma a urina em seu corpo

2. Quais são os órgãos envolvidos na formação da urina

3. A importância dos rins para a manutenção dos líquidos do corpo


A partir daí, os alunos registram o que sabem sobre o assunto, um material importante para conhecer a classe de maneira mais profunda. O registro escrito poderá ser ainda um instrumento comparativo importante mais adiante.

As leituras e atividades sugeridas pelo professor devem necessariamente ser acompanhadas pela avaliação formativa. Uma avaliação formativa envolve momentos de aprendizagem intensos, nos quais busca-se aplicar o que foi aprendido. Ao final da aula, os alunos poderão verificar eles mesmos o que aprenderam. Para isso, sugerimos a seguinte questão: “Você aprendeu?” É possível e até desejável que alguma terminologia técnica seja utilizada nessa abordagem. No material que tomamos como exemplo, o final do capítulo apresenta perguntas nesse sentido:

Você aprendeu?

1. De que maneira suas células mantêm níveis adequados de sódio em seu interior? E no líquido que as banha?

2. Onde está localizada a maior parte da água de nosso corpo?

3. Por que sentimos sede?


As respostas devem expressar os progressos dos alunos no período e devem ser comparados com registros de questões anteriores que podem revelar o que eles sabiam no momento inicial da aprendizagem. Caso essa atividade seja realizada pelos próprios alunos, eles podem buscar uma medida da proximidade dos resultados com os objetivos e avaliar seus progressos, o que evidencia a possibilidade metacognitiva do método. Esse tipo de avaliação pode ser tanto individual como produzida coletivamente, proporcionando interação. Diferentes significados construídos em sala de aula podem surgir e esse é um momento ideal para conversar com os alunos sobre as mudanças que eles perceberam sobre seus resultados.

Esse momento de comparação entre o momento inicial e o final permite que o próprio aluno tenha uma ideia quantitativa da distância maior ou menor entre o que se pretendia (“O que você vai aprender”) com o que de fato ocorreu (“Você aprendeu?”). Trata-se, portanto de ferramentas metacognitivas que permitem realizar uma avaliação somativa, realizada no final do processo, mas ainda em tempo de realizar ajustes, retomar pontos fracos, no sentido de garantir a conquista de objetivos básicos a todos os alunos.

Com a consciência de que aprenderam, uma situação-problema pode ajudar os alunos a aplicarem o conhecimento desenvolvido na aula em uma situação prática. Deve ser uma situação reconhecidamente existente, algo que de fato se queira responder. Os alunos estão estudando a composição da urina, analisando a crença que nela há apenas substâncias “inúteis”. Eles já estudaram, na lição sobre Alimentos Reguladores, que existem vitaminas hidrossolúveis (que se dissolvem em água) e lipossolúveis (que se dissolvem em óleo). Propomos então alguns exercícios nos quais uma das perguntas é:


Em ação: Uma pessoa está tomando vitaminas para complementar sua alimentação. Ela toma vitamina A (retinol), Complexo B, C e D. Caso essa pessoa faça um exame de urina, quais dessas vitaminas poderá encontrar? Por quê?


Os alunos enfrentaram a seção de exercícios dispondo dos elementos teóricos necessários para respondê-los, mas realizaram conexões entre os assuntos estudados. Essa avaliação proporciona aprendizagem e é por esse fato que é chamada avaliação formativa.

Desta forma, podemos evidenciar a necessidade de balancear as funções diagnósticas e de regulação da avaliação na escola. A dimensão formativa da avaliação não deve ser perdida de vista, sendo recomendável dispor dos elementos quantitativos que a avaliação somativa proporciona ao final das unidades de ensino.



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